sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Seres invisíveis

 


Você já teve a sensação de ser invisível em algum momento da sua vida? Digo isso porque eu já experimentei isso e é algo muito louco e até perturbador. Não vou contabilizar aqui quantas foram, mas lembro de duas mais vívidas na minha memória: uma, em um trabalho no qual, num determinado dia, eu iria ter que fazer uma coisa que particularmente não me agradava muito porque implicava mentir, dissimular, fazer de conta que eu era outra pessoa. Meu chefe, que certamente me daria esta missão, estava bem na minha frente mas, numa espécie de mágica, passou a tal tarefa suicida para outra colega. Na outra vez, a situação foi mais dramática:  um assalto em plena luz do dia. Eu estava voltando da minha caminhada matinal e esperava no ponto o meu ônibus para voltar pra casa. Além de mim, outras pessoas estavam na parada, num sábado ensolarado. Eram umas 9h da manhã, eu presumi, porque não tinha levado bolsa, celular, nada. Foi aí que, do nada, apareceram dois motoqueiros e vi o carona descendo da garupa tirando um revólver da cintura, ali, praticamente na minha frente. Minha reação foi fechar os olhos e começar a rezar. Só ouvia as vozes dos bandidos que mandaram todo mundo que estava ali entregar bolsas e celulares. Foram segundos de terror, mas eles não chegaram nem perto de mim... Nessas duas situações, agradeci muito ter ficado invisível, mas, não é desse tipo de "invisibilidade redendora" sobre a qual quero falar hoje. Minha escrita hoje é sobre a invisibilidade que anula os seres humanos e os deixa à margem de tudo: da atenção, dos direitos, da opinião...Aqui me colocarei como sujeito e objeto, como quem não enxerga e também não é vista.

Somos assim tão especiais para ignorarmos o próximo?




Essa pergunta eu me obrigo a fazer sempre que percebo pessoas ou situações nas quais eu poderia ter feito algo e por muitos motivos ( só para citar uns aqui: egoísmo, vaidade, soberba), fingi que não vi, não percebi, naquela atitude: " não é comigo, não tenho nada a ver com isso, não é problema meu". 
Como somos cruéis com a nossa mortal cegueira àqueles que nos cercam. Acho admirável quem consegue doar um pouco do seu tempo em ações beneficentes, trabalho voluntário, doações, acredito realmente que são almas evoluídas e aí vejo o quanto ainda preciso melhorar como pessoa.
Da mesma forma, os invisíveis querem falar, se expressar, mas quem ouve, quem lê? Desculpas existem várias, mas acredito que quando queremos, quando nos importamos de verdade, criamos o espaço,  tiramos as vestes das nossas personagens e calçamos as sandálias da humildade.

Um pedacinho de mim



Depois, mais calma e menos dura comigo mesma, percebi que poderia de alguma forma ajudar quem estava ali, bem na frente do meu nariz, e também gente que talvez jamais conheça pessoalmente. Todos temos nossos dons e tesouros: um sorriso, um aperto de mão, um bom dia educado. Uma vez li em algum lugar que uma das maiores provas de amor que podemos dar a alguém é o nosso tempo, a nossa atenção, isso é um pedacinho da gente e sabemos que o tempo é algo que não volta, essa viagem só podemos fazer nas nossas memórias. Sugiro humildemente que você olhe com um novo e carinhoso olhar para os demais seres ( humanos ou não) que cruzam o seu caminho todos os dias. Eles não são seres invisíveis e talvez este momento em que vocês se encontram possa não mais se repetir, então, faça-o ser marcante, cheio de amor e inesquecível


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Álbum de fotografias

Momentos eternizados 

Eu estava hoje arrumando uma prateleira na qual guardo alguns álbuns de fotografia e, como de praxe,  não resisti e fui abrindo um por um para dar uma olhada nas fotos. Para as gerações mais novas, deve ser esquisito imaginar uma espécie de caderno de tamanhos e cores diferentes onde separadas geralmente por folhas fininhas de plástico, estão elas, as fotografias.  Mesmo não tendo a pretensão de me rotular como fotógrafa, sempre gostei de registrar, sempre que isso era possível ( naquela época ainda não tínhamos celulares, muito menos, celulares com câmeras), os meus pequenos recortes de vida. 



Sempre achei a fotografia uma arte mágica porque eterniza os preciosos segundos, olhares,  sorrisos, as emoções, gestos, luzes e cores ( ou a ausência delas, no caso das belíssimas fotos em preto e branco) do que foi ali capturado. Sabemos que a vida é uma jornada que não tem a tecla review ( para retroceder), ela só segue para a frente e tirar fotos é uma forma lindamente malandra de "burlar" , mesmo que por alguns momentos, a trajetória do tempo.


Máquina do tempo portátil


Folheando aqueles álbuns, me vi voltando ao passado numa verdadeira máquina do tempo portátil. Olhei cada foto e minha mente me transportou àquele recorte da minha vida, num delicioso saborear de emoções. É como se cada uma daquelas fotos me saudasse dizendo: "Lembra deste dia? Foi bacana e inesquecível, não foi?". Eu tenho uma quantidade considerável de álbuns daqueles pequenos e uns 2 ou 3 dos grandes e como é gostoso ver parte da linha do tempo da minha vida registrada ali. E não só da minha história, mas também da de pessoas que dividiram alguns daqueles momentos comigo: aniversários, reuniões de amigos, batizados, confraternizações, meus filhos pequenos, meus filhos dormindo, brincando, chorando, crescendo...Os lugares por onde andei, as paisagens que admirei e que pude guardar comigo em fotografias.



Uma imagem vale mais do que mil palavras


Não sei quem disse isso, mas é um frase que sempre fez muito sentido pra mim. Existem emoções e momentos que são tão sublimes e especiais que não cabem em frases, exclamações ou interrogações. Às vezes, são tão intensos e perfeitos que nem mesmo o silêncio consegue desvendá-los. Mas, a imagem...Ah, uma imagem pode dizer muito, principalmente se você se permite mergulhar nela, desfrutá-la, senti-la. Hoje temos a tecnologia não só das máquinas profissionais, mas também dos celulares, e podemos praticamente tirar fotos em qualquer lugar e a qualquer hora. Conseguimos dividir quase que imediatamente isso com praticamente o mundo todo, se quisermos. Numa similaridade do que era feito com os antigos álbuns de papel, conseguimos montar álbuns online, colocar legendas, figurinhas, montar um clipe, enfim, o que a imaginação te inspirar a fazer. Mas, como é gostoso folhear um álbum físico, viajar  num carrossel de emoções e celebrar o privilégio que é estar vivo!





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Por que você reclama tanto?

Por que você reclama tanto?

Hoje eu acordei fazendo esta pergunta primeiro a mim mesma e aí começou um carrossel de indagações e reflexões: será que eu sou uma reclamona ALFA, RAIZ, ou uma reclamona eventual, dependendo da circunstância na qual me encontro? Aí pensei em também levar este questionamentos até você que lê meus escritos aqui.

Já ouvi mais de uma vez entre especialistas do comportamento humano e também pessoas mais ligadas às questões da espiritualidade e neurolinguística, que a palavra reclamar significa " clamar duas vezes". Fui conferir o significado que consta nos dicionários e achei algo semelhante em uma das definições:  verbo transitivo direto que significa pedir ou mandar de maneira veemente .Também achei o outro significado que é : verbo transitivo indireto e intransitivo: opor-se por meio de palavras; fazer reclamação; queixar-se. 

Fiquei me perguntando como é tênue o limite entre a, digamos, reclamação que reivindica uma coisa e a que apenas "clama de maneira veemente". Não vou abordar aqui o caso em que reclamamos por exemplo, contra uma injustiça. A " pegada" de hoje é sobre como é importante para a nossa saúde mental e bem estar ficarmos vigilantes nas nossas doses nada homeopáticas de reclamações.

Poder das palavras


Você pode até achar que isso é papinho místico, bobagem ou perda de tempo mas, sim: as palavras têm poder e justamente por nem sempre sabermos disso ou levarmos isso a sério é que caímos na cilada de nos tornarmos vilões de nós mesmos, passando cada minuto da nossa vida, cada dia, apenas " re-clamando" e mandando de volta pra gente justamente o que menos queremos. Está complicado de entender? Deixa eu tentar explicar melhor...
Temos que aprender a enfatizar nos ganhos e não nas faltas. Como assim? Vou dar um exemplo: a pessoa está com contas para pagar, preocupada, sem dinheiro e geralmente o que ela fala pra si e para os outros ao redor? " Não aguento mais ficar sem dinheiro, nossa, não tenho dinheiro pra nada, vida difícil, etc, etc, etc". Se você seguir a lógica do reclamar = clamar duas vezes, o que essa pessoa está fazendo com ela mesma? Focando suas poderosas palavras na escassez, na dificuldade, na angústia e isso retroalimenta todo o processo.

Atenção, vigilância e prática



Eu sei, eu sei, parece algo tão difícil se monitorar e saber discernir os dois significados e usos do verbo RECLAMAR. Há dias em que eu me pego reclamando por cada coisa, situação, humor, de uma certa forma me torturando com coisas que, muitas vezes, estão além do meu alcance e isso é muito nocivo não só para mim como também para todos aqueles que me cercam, sabia? Seu humor contagia, sendo ele bom ou mal.
Então, o que posso dizer a você é para respirar fundo, prestar atenção nos seus pensamentos e nas suas palavras e ir praticando mais o antônimo da reclamação que é a gratidão.
 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Caminhando no parque

 

Taguaparque/acervo pessoal

Exercício e reflexões


Eu amo estar no meio da natureza e frequento este parque bem pertinho de casa praticamente todos os dias. É a minha 1 hora e meia de comunhão com o verde, o ar puro, o vento e os pássaros que estão ali assim como eu, celebrando a vida. Dia desses, na minha caminhada matinal me dei conta de que ali, naquele espaço verde, encontro matéria-prima variada para escrever sobre várias coisas e foi assim que surgiu a inspiração para o texto de hoje...


Um olhar sobre as pessoas


Praticamente encontro as mesmas pessoas no mesmo horário em que vou ao parque e, às vezes, também observo novos frequentadores. Na verdade, aquele lugar é um grande laboratório para se observar o ser humano em suas mais variadas matizes e divagar nestes pensamentos: tem os senhores e as senhoras já de idade que vão ali se exercitar, não muito preocupados em imprimir velocidade à caminhada ou à corrida, seguem seus ritmos próprios naquela postura de que não têm mais nada a dever ao mundo e às pessoas. Do alto da sabedoria dos muitos anos vividos, degustam o sabor e a alegria de estarem ali, desfrutando aqueles momentos. Há também os casais, tanto os que apenas caminham um ao lado do outro, mas também os que fazem isso de mãos dadas, numa clara demonstração de parceria explícita.
Também existem os atletas e de várias idades: vejo jovens e senhores que correm e imprimem um ritmo intenso ao exercício, algo admirável, principalmente vindo de veteranos, santa inveja! 
Mesmo num parque, a gente também se depara com quem vai se exercitar cheio(a) de estilo: chapéu, boné, óculos escuros, fones de ouvido, mas não faltam os frequentadores mais despojados: um calção, uma camiseta, um par de tênis e tá tudo bem! Tem aqueles que levam seus pets, os que levam seus filhos para aproveitar o momento precioso de poder estar ali, se permitindo aproveitar o tempo de um jeito lúdico e único.

Taguaparque/acervo pessoal


Que histórias elas carregam?


Quando estou ali, andando olho para as pesssoas, cumprimento algumas (e algumas retribuem a gentileza, outras não) e fico imaginando que histórias de vida estes rostos anônimos carregam. Que profissão têm, sonhos, frustrações, alegrias, tristezas...Ali, naquele espaço ao ar livre, a atividade física acaba nivelando a todos. O parque não faz distinção de raça, cor, sexo ou status social, democraticamente é o lugar onde as vidas se cruzam.