sexta-feira, 3 de março de 2023

Etarismo, um apartheid de idade

 Idadismo, ageísmo, etarismo....As palavras são diferentes, mas trazem no seu âmago uma raiz comum: o preconceito, a discriminação relacionada à idade das pessoas. Mesmo acontecendo também entre os mais jovens, o lado mais perverso do etarismo é manifestado em relação às pessoas mais velhas. Numa sociedade que cultua o corpo, o novo, a tecnologia e a velocidade das coisas, chega a ser cruel o que os olhos mais atentos e até mesmo, quem já está sentindo isso na pele, conseguem perceber: nossa sociedade fecha as portas para quem envelhece e nem sempre isso é de forma velada.

No mercado de trabalho está cada vez mais difícil uma pessoa na faixa etária dos 40, 50 anos, conseguir um emprego formal, tradicional. O que mais ouço e não é de hoje, são casos de profissionais experientes, mais do que qualificados, enviando centenas de currículos e recebendo respostas padronizadas, isso quando respondem. Alguns que até tiveram retornos que não disfarçavam o motivo da não contratação: a idade. 

Experiência e juventude podem andar juntas



Segundo dados divulgados em julho de 2022 pelo IBGE, o Brasil tem, em números absolutos, 31,23 milhões de pessoas idosas. Este contingente aumentou 39,8% em 10 anos, ainda de acordo com o Instituto. Não é de hoje que o Brasil está virando um país de velhos, idosos, pessoas que deram muita contribuição para a nossa sociedade e que mereceriam um tratamento mais digno e respeitoso.

Não somos preparados para envelhecer


Eu acho que a falta de preparação ou, no mínimo, de conversas sobre o assunto deixa tudo ainda mais difícil. Falar sobre a velhice, assim como falar da morte, da maternidade/paternidade e tantos outros assuntos que são inadiáveis, parece muitas vezes uma espécie de tabu. Será que as pessoas evitam falar porque não desejam se imaginar "velhas"? Até a palavra "velho", "velha" é encarada por muita gente como ofensiva, depreciativa, algo que não tem valor.. Muitos usam os termos idoso, melhor idade, terceira idade, idade tardia, numa tentativa de "suavizar" a carga "pesada" da velhice.
Parece tão óbvio: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Para alguns, a chegada ao terceiro estágio nem chega a acontecer, muitos morrem ainda jovens e eu particularmente enxergo o processo do envelhecimento  um privilégio.

Envelhecer não precisa ser um fardo


Carinho e respeito 


Acredito que já passou da hora de todos nós, crianças, adolescentes, adultos e velhos nos conscientizarmos sobre a necessidade de respeitar cada velho/idoso; velha/idosa com suas particularidades, mandando para longe também, a figura estereotipada que temos dessas pessoas: frágeis, dependentes, limitadas...Tem muito vovô e vovó por aí que tem energia, lucidez e vida em abundância, sonhos e capacidade de ir atrás deles. Muitos "botam no chinelo" a horda de jovens que vemos por aí. Precisamos nos preparar para este período da vida, da mesma forma que somos condicionados a estudar, escolher uma profissão, casar ( ou não). É importante que as pessoas procurem estar prontas ou, pelo menos, tentar isso. É vital que a sociedade pare de negligenciar nossos velhos que merecem toda a nossa reverência, carinho e respeito.