sexta-feira, 27 de maio de 2022

Desabafo

Onde está nossa essência?


Foto: Cassandra Castro


Essa quinta-feira, dia 26 de maio de 2022 trouxe a mim uma notícia perturbadora: mais uma vida ceifada, moída e subtraída deste mundo, a vida da jovem Sayonara, uma estudante do 8º período do curso de medicina, quase na reta final para se formar. Como ela morreu? Morreu de tristeza, desespero, pressão de todos os níveis inimagináveis..Se esta morte poderia ter sido evitada? Talvez pudesse, como vamos saber se sequer percebemos os pedidos de socorro deixados por milhares de pessoas todos os dias, vítimas da depressão, síndrome do pânico e tantos outros males que vão matando aos poucos, por dentro, até o desfecho final?

Eu mesma já perdi amigos e conhecidos para o suicídio, até escrevi sobre isso em 2020 depois de saber da morte do Cristiano. O fato me forçou a fazer uma viagem no tempo para lembrar a última vez em que o encontrei...O Cris era um palhaço porque vivia fazendo os outros rirem, era alegre e brincalhão e isso não o tornava menos responsável pela família que tinha ou menos profissional do que um sujeito sisudo ou cheio de poses. Me perguntei: o que eu não percebi, o que eu não fiz, por que não pude ajudar o meu amigo?

Eu não conhecia a Sayonara, vi apenas uma nota de pesar publicada pela instituição onde ela estudava. Mesmo assim, a notícia mexeu comigo. Acredito que as perguntas que fiz quando soube da morte do Cristiano sejam as mesmas feitas pelos amigos, colegas e familiares dela. Junto a essas indagações, me pego fazendo outras: Quantas pessoas tiram a própria vida todos os dias? Podemos julgá-las ou julgar seus parentes e conhecidos? Onde falhamos?

O meu umbigo


Já li em vários lugares que o ser humano é egoísta por natureza. Percebemos este nosso " desvio de personalidade" já na criança que não abre mão de um brinquedo que é seu e que não divide com ninguém. Somos tão egoístas que só olhamos, na maioria das vezes, para o nosso umbigo, expressão tão antiga e precisa. É algo muitas vezes tão instintivo que nem percebemos: minha casa, meus projetos, meu trabalho,meus sonhos, meu...meu..meu. E o que dizer dos outros? Do vizinho, do irmão, do amigo, do ilustre desconhecido? Quem achamos que somos para menosprezar o próximo? Por acaso ele não tem tanto direito do que eu de viver e ser feliz?


Tapa na cara


Toda vez que fico sabendo de casos como o da Sayonara ou do Cristiano, morro também um pouco por dentro. Coloco o dedo na ferida da minha impotência e me pergunto: o que posso fazer para que isso não aconteça mais? Como ser aquele passarinho que, solitário, leva água no bico na tentativa de apagar o incêndio que está devastando a floresta enquanto os outros animais fogem ou caçoam dele:  Você acha que vai conseguir apagar este fogo sozinho? E o pássaro responde:  Pelo menos, eu estou fazendo a minha parte.